A "Teatralidade Do Cotidiano": Da performance à performatividade, para que possamos compreender melhor o tema abordado no texto, e para simplificar, vamos explicar da seguinte forma... Vamos fazer de conta que o mundo em que vivemos é na verdade um "Grande Palco", todos nós somos atores e estamos "Encarnando Um Personagem", em uma "Peça Teatral" muito famosa, conhecida pelo titulo de "Vida". Este capítulo explora criticamente duas formas de pensar o cotidiano em termos de um modelo de teatralidade. Todos os mundos, um palco e todos os homens e mulheres, apenas jogadores. Esta linha de "As You Like It" de "William Shakespeare" é quase um resumo da abordagem dramatúrgica de "Erving Goffman" para o cotidiano. O conceito de performatividade de "Butler" não deve ser confundido com a ideia de performance entendida como uma forma de encenação na qual uma identidade mais fundamental (um eu natural) permanece intacta por trás da teatralidade da identidade em exibição. O fator-chave em toda ação social e interação na vida cotidiana é a manutenção de uma única definição da situação, essa definição deve ser expressa e essa expressão sustentada em face de uma multidão de rupturas potenciais.
Quando era garoto, era muito esperto e observador, em épocas específicas do tipo "Festas De Fim De Ano", quando ainda as pessoas "Encarnavam O Espírito Natalino", eu ficava observando o comportamento das pessoas que passavam o ano todo discutindo por bobagens, as vezes até ofendendo umas às outras, e só porquê era a semana do "Natal", se abraçavam, se beijavam e diziam aquela frase de praxe: "A Quanto Tempo!... Que Saudades!... Que Prazer Em Vê-lo(a)!...", depois que iam embora você ouvia sempre algo do tipo: "Não Suporto Ele(a)!... Oh Pessoa Chata!!!...". Eu ficava observando aquela cena, e ficava imaginando, se acha uma pessoa chata ou não a suporta, por quê todo aquele "Teatro"?! Mais tarde, já adulto, com mais experiência de vida, compreendi o que eram aquelas cenas que até hoje às tenho em minha mente, compreendi que aquelas frases "Decoradas", de praxe, faziam parte realmente de uma "Enorme Peça Teatral".
Nota: A "Vida" em si não passa realmente de uma "Enorme Peça Teatral", e às vezes nos decepcionamos quando percebemos que uma pessoa não estava sendo totalmente sincera conosco, dizia que nos amava ou que era nosso(a) amigo(a) da boca para fora, mas por dentro sentia-se "SUFOCADA" e mentia.
"Primeiro fazemos nossos hábitos, depois nossos hábitos nos fazem", John Dryen.
Você já ouviu falar sobre o "Alter Ego"?! "Alter Ego" é uma locução substantiva latina, cujo significado literal é "Outro Eu". "Cícero" cunhou o termo como parte de seu discurso filosófico, no século I. Ele descrevia o "Alter Ego" como um amigo ou alguém próximo, em quem se deposita total confiança, um substituto perfeito. Em suma, o "Alter Ego" se trata da personificação de outra identidade fictícia e distinta da nossa personalidade padrão. Ou seja, nós criamos e encarnamos a identidade de um personagem, agindo de acordo com a índole dele. Embora seja mantida algumas das características padrão, é comum que essa nova imagem tenha uma essência própria e independente do criador. O termo significa literalmente "Outro Eu", fazendo referência a uma persona que reside em nosso inconsciente. Também vale dizer o que é "Alter Ego" na Psicologia. De acordo com os profissionais dessa área, o ego é a superfície da mente onde se concentram ideias, emoções e pensamentos racionais. Por sua vez, o "Alter Ego" seria um produto do inconsciente somado às nossas vontades, desejos e idealizações reprimidas.
Não existe personagem melhor que o "Batman" para explicarmos o que é o "Alter Ego". Batman é um herói que surgiu pela dor de uma perda. Vitimado pelo trauma de assistir seus pais serem assassinados por um assaltante quando tinha apenas oito anos de idade, o jovem Bruce nunca se recuperou. Ao contrário do que se poderia esperar, de acordo com as teorias freudianas, o trabalho de luto de "Bruce Wayne" nunca se extinguiu e, talvez por uma predisposição patológica, acabou envolvendo-o em uma eterna melancolia. Sua libido só encontrará alivio na vingança contra os tipos criminosos, que são o "Objeto Gerador" de perda e da sua angustia. "Batman" é um dos heróis mais atormentados da DC, "Bruce Wayne" vem de uma avalanche de traumas em sua história, deixando como sequela alguns possíveis transtornos durante sua vida dos quais podemos citar: Pânico, paranoia, distimia, obsessão e estresse pós-traumático.
Nota: A distimia é caracterizada pelo humor rebaixado, o humor levemente depressivo por um tempo prolongado, seja por uma auto observação ou a observação por terceiros. Muitas vezes, as pessoas não conseguem enxergar esses próprios sintomas.
Obs.: "Batman" ou "Bruce Wayne"? Qual é a identidade, a personalidade real? Quem é o verdadeiro e quem é o "Alter Ego"? Qual das duas vidas é a real? A de playboy bilionário ou a de justiceiro noturno?
No começo do século 20 o psicólogo suíço "Carl Jung" explorou a ligação entre a mente consciente e inconsciente. Jung acreditava que em todos nós acontece uma luta entre um ser sociável e aceitável. Algo que Jung chamou: O lado sombrio. "Batman" é a personificação do lado sombrio. Ele parece com o mal que combate, como se fosse um vilão, um anti-herói. "Batman" tem a iconografia do mal. Nas pinturas medievais sobre demônios, por exemplo, geralmente tem chifres e asas de morcego. Os morcegos em todas as culturas (exceto a chinesa) são símbolos do mal, do lado negro, da morte, do diabo. E isso nos fascina! As pessoas sempre foram fascinadas pelo mal. Alguns psicólogos acreditam que isso ocorre porque o mal é uma parte inerente de todos nós e em parte desejamos consciente ou inconscientemente que nosso lado sombrio materializa-se, ganhando vida como o "Batman".
De fato é nas sombras que Bruce se sente mais à vontade, é dela que emerge o justiceiro apaixonado pela solidão que transformou seus medos em símbolo a ser usado como arma. "Batman" não tem medo de nada, a não ser dele mesmo , medo que um dia ele possa se tornar aquilo que ele caça. O que o diferencia "Bruce Wayne" de seus inimigos é apenas um apego a um ideal elevado. E não somos todos nós assim?! Respondendo à pergunta de qual seria o verdadeiro "Eu", acredito que Bruce seja apenas seu "Alter Ego", uma personalidade de playboy milionário que foi construída, por conselhos de Alfred como forma de ter uma "Vida". Mas é quando Bruce está agindo como "Batman" que ele sente-se mais à vontade e é para onde apontam todas as suas escolhas e paixões que o tornam um justiceiro solitário. Porém uma "Personalidade" não existe sem a outra, "Batman" foi criado para lidar com as dores do Bruce, e o "Novo Bruce" é um forma de alivio necessário ao atormentado "Batman".
Nota: Ultimamente temos ouvido muito a palavra "Mito"!
A construção do Mito
Ainda criança, com seis anos, Bruce caiu num poço onde habitava uma ninhada de morcegos, fato este que gerou uma grave quiroptofobia, que durante a vida inteira lhe acometeu de insônia e terríveis pesadelos com esses mamíferos. Podemos encontrar aqui a ausência de sono, e as psicoses alucinatórias carregadas de desejo do melancólico, de que falava Freud em seu "Luto & Melancolia". Após sofrer seu grande trauma, a morte dos pais, ele promete a si mesmo que faria de tudo para o que aconteceu a ele não acontecesse a mais ninguém. Mas, para isso, ele não poderia mais ter medo, teria que ser ainda mais assustador que os próprios criminosos que combatia, e isso só seria possível a ele sob nada mais que o signo do morcego. O que era a coisa mais assustadora do mundo para ele, seria também para seus algozes, ao mesmo tempo em que serviria de exorcismo ao seu próprio medo. Ao querer impedir que as outras pessoas passem pelo que ele passou, "Batman" reconhece que todo ser sofre (ou mais precisamente, tem potencial para o sofrimento), e toma como sua a miséria do mundo. Porém o desejo de "Bruce Wayne" em livrar o mundo do mau é nada mais, nada menos, que uma impossibilidade, e isso gerará nele a obsessão, e consequentemente sua melancolia e sofrimento eterno.