terça-feira, 27 de dezembro de 2022

Vida... A Teatralidade Do Cotidiano... Alter Ego Do Batman 🎭

 

A "Teatralidade Do Cotidiano": Da performance à performatividade, para que possamos compreender melhor o tema abordado no texto, e para simplificar, vamos explicar da seguinte forma... Vamos fazer de conta que o mundo em que vivemos é na verdade um "Grande Palco", todos nós somos atores e estamos "Encarnando Um Personagem",  em uma "Peça Teatral" muito famosa, conhecida pelo titulo de "Vida". Este capítulo explora criticamente duas formas de pensar o cotidiano em termos de um modelo de teatralidade. Todos os mundos, um palco e todos os homens e mulheres, apenas jogadores. Esta linha de "As You Like It" de "William Shakespeare" é quase um resumo da abordagem dramatúrgica de "Erving Goffman" para o cotidiano. O conceito de performatividade de "Butler" não deve ser confundido com a ideia de performance entendida como uma forma de encenação na qual uma identidade mais fundamental (um eu natural) permanece intacta por trás da teatralidade da identidade em exibição. O fator-chave em toda ação social e interação na vida cotidiana é a manutenção de uma única definição da situação, essa definição deve ser expressa e essa expressão sustentada em face de uma multidão de rupturas potenciais.

Quando era garoto, era muito esperto e observador, em épocas específicas do tipo "Festas De Fim De Ano", quando ainda as pessoas "Encarnavam O Espírito Natalino", eu ficava observando o comportamento das pessoas que passavam o ano todo discutindo por bobagens, as vezes até ofendendo umas às outras, e só porquê era a semana do "Natal", se abraçavam, se beijavam e diziam aquela frase de praxe: "A Quanto  Tempo!... Que Saudades!... Que Prazer Em Vê-lo(a)!...", depois que iam embora você ouvia sempre algo do tipo: "Não Suporto Ele(a)!... Oh Pessoa Chata!!!...". Eu ficava observando aquela cena, e ficava imaginando, se acha uma pessoa chata ou não a suporta, por quê todo aquele "Teatro"?! Mais tarde, já adulto, com mais experiência de vida, compreendi o que eram aquelas cenas que até hoje às tenho em minha mente, compreendi que aquelas frases "Decoradas", de praxe, faziam parte realmente de uma "Enorme Peça Teatral".

Nota: A "Vida" em si não passa realmente de uma "Enorme Peça Teatral", e às vezes nos decepcionamos quando percebemos que uma pessoa não estava sendo totalmente sincera  conosco, dizia que nos amava ou que era nosso(a) amigo(a) da boca para fora, mas por dentro sentia-se "SUFOCADA" e mentia. 

"Primeiro fazemos nossos hábitos, depois nossos hábitos nos fazem", John Dryen.

Com o passar dos anos, compreendi que juntamente com a experiência de vida, com o passar do "Tempo", as situações, (os problemas, as dificuldades, os perigos, as armadilhas, os relacionamentos), vão nos moldando e para cada situação criamos e não percebemos "Um Personagem", para cada situação. Descobri que temos um arsenal de personagens, os quais podemos fazer bom uso deles se for preciso! Quanto mais o "Tempo" passa, quanto mais experiências de "Vida" tivermos, vivenciando e aprendendo com momentos "Bons Ou Ruins", mais ricos ficamos em matéria de "Personal-Idade". Embora a personalidade tenha sido tradicionalmente considerada como uma construção rígida, estável e dificilmente alterável; Uma série de estudos revela que isso não é inteiramente verdade. De um modo geral, o conceito de personalidade pode ser resumido como a combinação de pensamentos, emoções e sentimentos que definem uma pessoa específica. Que são estáveis ​​ao longo do tempo e não variam de uma situação para outra.

Do mesmo modo, embora a personalidade seja estável através de situações, isso não implica que a pessoa sempre se comporte da mesma maneira, mas que a personalidade governa a maneira pela qual percebemos a realidade e interagimos com ela, criando uma série de tendências e padrões complexos e relativamente flexíveis. Essa flexibilidade encontra uma explicação de que a pessoa precisa se adaptar ao ambiente circundante. Isso não significa que deixamos de ser nós mesmos, mas que nossa personalidade tem a capacidade de flutuar ao longo dos diferentes períodos de nossa vida. As principais teorias também concordam que a personalidade acompanha a pessoa desde o nascimento, possuindo uma série de características próprias que mudarão e mudarão na interação com seu contexto e suas experiências vitais, sendo, além disso, essencial para o desenvolvimento das habilidades sociais da pessoa e, portanto, para a integração da pessoa na sociedade.

Você já ouviu falar sobre o "Alter Ego"?! "Alter Ego" é uma locução substantiva latina, cujo significado literal é "Outro Eu". "Cícero" cunhou o termo como parte de seu discurso filosófico, no século I. Ele descrevia o "Alter Ego" como um amigo ou alguém próximo, em quem se deposita total confiança, um substituto perfeito. Em suma, o "Alter Ego" se trata da personificação de outra identidade fictícia e distinta da nossa personalidade padrão. Ou seja, nós criamos e encarnamos a identidade de um personagem, agindo de acordo com a índole dele. Embora seja mantida algumas das características padrão, é comum que essa nova imagem tenha uma essência própria e independente do criador. O termo significa literalmente "Outro Eu", fazendo referência a uma persona que reside em nosso inconsciente. Também vale dizer o que é "Alter Ego" na Psicologia. De acordo com os profissionais dessa área, o ego é a superfície da mente onde se concentram ideias, emoções e pensamentos racionais. Por sua vez, o "Alter Ego" seria um produto do inconsciente somado às nossas vontades, desejos e idealizações reprimidas.

Não existe personagem melhor que o "Batman" para explicarmos o que é o "Alter Ego". Batman é um herói que surgiu pela dor de uma perda. Vitimado pelo trauma de assistir seus pais serem assassinados por um assaltante quando tinha apenas oito anos de idade, o jovem Bruce nunca se recuperou. Ao contrário do que se poderia esperar, de acordo com as teorias freudianas, o trabalho de luto de "Bruce Wayne" nunca se extinguiu e, talvez por uma predisposição patológica, acabou envolvendo-o em uma eterna melancolia. Sua libido só encontrará alivio na vingança contra os tipos criminosos, que são o "Objeto Gerador" de perda e da sua angustia. "Batman" é um dos heróis mais atormentados da DC, "Bruce Wayne" vem de uma avalanche de traumas em sua história, deixando como sequela alguns possíveis transtornos durante sua vida dos quais podemos citar: Pânico, paranoia, distimia, obsessão e estresse pós-traumático.

Nota: A distimia é caracterizada pelo humor rebaixado, o humor levemente depressivo por um tempo prolongado, seja por uma auto observação ou a observação por terceiros. Muitas vezes, as pessoas não conseguem enxergar esses próprios sintomas.

Obs.: "Batman" ou "Bruce Wayne"? Qual é a identidade, a personalidade real? Quem é o verdadeiro e quem é o "Alter Ego"? Qual das duas vidas é a real? A de playboy bilionário ou a de justiceiro noturno?

No começo do século 20 o psicólogo suíço "Carl Jung" explorou a ligação entre a mente consciente e inconsciente. Jung acreditava que em todos nós acontece uma luta entre um ser sociável e aceitável. Algo que Jung chamou: O lado sombrio. "Batman" é a personificação do lado sombrio. Ele parece com o mal que combate, como se fosse um vilão, um anti-herói. "Batman" tem a iconografia do mal. Nas pinturas medievais sobre demônios, por exemplo, geralmente tem chifres e asas de morcego. Os morcegos em todas as culturas (exceto a chinesa) são símbolos do mal, do lado negro, da morte, do diabo. E isso nos fascina! As pessoas sempre foram fascinadas pelo mal. Alguns psicólogos acreditam que isso ocorre porque o mal é uma parte inerente de todos nós e em parte desejamos consciente ou inconscientemente que nosso lado sombrio materializa-se, ganhando vida como o "Batman".

De fato é nas sombras que Bruce se sente mais à vontade, é dela que emerge o justiceiro apaixonado pela solidão que transformou seus medos em símbolo a ser usado como arma. "Batman" não tem medo de nada, a não ser dele mesmo , medo que um dia ele possa se tornar aquilo que ele caça. O que o diferencia "Bruce Wayne" de seus inimigos é apenas um apego a um ideal elevado. E não somos todos nós assim?! Respondendo à pergunta de qual seria o verdadeiro "Eu", acredito que Bruce seja apenas seu "Alter Ego", uma personalidade de playboy milionário que foi construída, por conselhos de Alfred como forma de ter uma "Vida". Mas é quando Bruce está agindo como "Batman" que ele sente-se mais à vontade e é para onde apontam todas as suas escolhas e paixões que o tornam um justiceiro solitário. Porém uma "Personalidade" não existe sem a outra, "Batman" foi criado para lidar com as dores do Bruce, e o "Novo Bruce" é um forma de alivio necessário ao atormentado "Batman".

Nota: Ultimamente temos ouvido muito a palavra "Mito"!

A construção do Mito

Ainda criança, com seis anos, Bruce caiu num poço onde habitava uma ninhada de morcegos, fato este que gerou uma grave quiroptofobia, que durante a vida inteira lhe acometeu de insônia e terríveis pesadelos com esses mamíferos. Podemos encontrar aqui a ausência de sono, e as psicoses alucinatórias carregadas de desejo do melancólico, de que falava Freud em seu "Luto & Melancolia". Após sofrer seu grande trauma, a morte dos pais, ele promete a si mesmo que faria de tudo para o que aconteceu a ele não acontecesse a mais ninguém. Mas, para isso, ele não poderia mais ter medo, teria que ser ainda mais assustador que os próprios criminosos que combatia, e isso só seria possível a ele sob nada mais que o signo do morcego. O que era a coisa mais assustadora do mundo para ele, seria também para seus algozes, ao mesmo tempo em que serviria de exorcismo ao seu próprio medo. Ao querer impedir que as outras pessoas passem pelo que ele passou, "Batman" reconhece que todo ser sofre (ou mais precisamente, tem potencial para o sofrimento), e toma como sua a miséria do mundo. Porém o desejo de "Bruce Wayne" em livrar o mundo do mau é nada mais, nada menos, que uma impossibilidade, e isso gerará nele a obsessão, e consequentemente sua melancolia e sofrimento eterno.  


NÃO É O QUE VOCÊ "É" POR DENTRO, MAS SIM O QUÊ FAZ QUE DEFINE VOCÊ!!!

Friedrich Nietzsche

O ressentimento é nossa fúria para com a mortalidade que nos define e torna quase todas as nossas qualidades irrelevantes.

terça-feira, 20 de dezembro de 2022

O AMOR ROMÂNTICO É UM EVENTO TEMPORÁRIO?!

 

O amor romântico é um evento temporário, porque acontece no plano físico transitório. As etapas começam mais ou menos como paixão. Há as rupturas de emoção, os encontros. Mas a paixão romântica é também um elo com a eternidade, porque anseia por ser vivida para além do laço físico, esperando tornar-se absoluta, definitiva e completa. Cada vez que experimentamos um amor profundo, escapamos do tempo para nos aproximarmos do mistério e da possibilidade da eternidade. Amor e paixão ignoram o tempo. Aqueles que desejam puramente conjugar tornam-se vítimas de um presente raivoso e de uma inconsciência para a eternidade. Se falamos de verdadeira paixão, nossas habilidades de perceber a atemporalidade são intensificadas. 

No entanto, a tragédia do amor perdido cria o perigo de uma fixação eterna no passado. Essa fixação continua a manifestar sua existência até que algo faça com que o vínculo emocional negativo com o perdido seja rompido. Nesse momento, provoca-se uma fuga do fluxo temporal, onde os acontecimentos que passam podem repousar no passado, dissociando-se do presente. Eles podem então se tornar integrados e comprometidos com o esquecimento. 

No entanto, a memória humana luta para escapar da opacidade criada pela imagem inabalável do ente querido que não está mais ali. Tentar reter as imagens do passado, para emprestar sua intensidade ao presente, tem sido uma preocupação constante do ser humano. Num contexto individual, essa mera realidade pode ser vivida de forma altamente individual e independente. O futuro, indecifrável, não nos penetra. O passado é uma região conhecida mas ainda fecunda e, pela natureza prognóstica do humano, nunca abandonada até que o laço seja de alguma forma rompido. 


Para tornar possível viver do amor, devemos criar o que pode ser chamado de fuga das algemas do tempo. O amor pode ser isolado de seu contexto temporal original, cristalizado pelo fluxo poderoso do evento que não faz mais parte do passado. Isso se constitui como um germe do que acontece em um tempo e denúncia completa de uma vida já inexistente. Assim, o passado não é mais "o passado", porque remove sua aparência fantasmagórica e reivindica sua atualidade.


Extraído da memória temporal esquecida, o amor pode se tornar uma experiência pura e atemporal da realidade extra temporal. O caminho da memória torna-se o instrumento para criar um momento presente erótico, uma recuperação de sensações passadas, que não visa apenas a recreação, mas que torna o prazer e a memória em planos iguais. Exemplo disso é a invocação de uma sensação passada, que deve ter a memória do corpo, dos lábios, da pele, que conhecemos intuitivamente. O corpo parece ter capacidade cognitiva, pelo menos na esfera sensual e indelével. O corpo sente, mas também pensa, lembra. O corpo sabe. Semelhantes equivalências são experimentadas quando nossas memórias transcendentes monopolizam o mais esplêndido erotismo e prazer de nossos seres. Quando isso ocorre!


O prazer é a memória e a reflexão sobre a autêntica vida de unidade com tudo. Às vezes, a memória não precisa de um catálogo completo de experiências. O passageiro, o fugaz, pode criar todo um universo de sensações. Um único momento, talvez furtivo e rápido, pode ser patenteado em nossas vidas. A atração não precisa de nenhum outro estímulo. O momento só precisa da percepção do belo, do sublime, apesar do assoalho temporário do encontro. Acaba com a forma, criando um erotismo essencialista que transcende toda forma momentânea, onde a intensidade supera tudo o mais. As fórmulas dos antigos greco-sírios sugerem um retorno metafísico à juventude dourada com sua amante, a beleza, o amor, mesmo que apenas por uma hora. 


Eu proponho um eterno paixão. Esta eternidade é criada com os estímulos da memória e a riqueza das sensações que a sua renovação nunca esgota. Ressaltemos que diante dos embates e desilusões do tempo ainda existe a possibilidade de reflexão transcendente. A dor e a velhice desaparecem, nem que seja por um momento, mas o cansaço que é a vida que só pode ser suportado se abundarmos no que nos ultrapassa. Convido-vos a ultrapassar os limites do conhecimento, estabelecendo novas ordens entre as palavras e as coisas, utilizando a multiplicidade de ferramentas fornecidas pela experiência humana, como viver pequenos momentos, olhares, divagações solitárias. Assim iremos passar e apresentar, excluídos do tempo, confundindo previamente os nossos corpos e podendo fundir-nos. É preciso aquecer-se para a possibilidade de ser amado na memória, obtendo a sua renovação, através de uma eloquência do corpo que ultrapassa o tempo.